08/02/2011

Divórcio na papelaria

Entro na papelaria para encapar alguns livros... aguardando impacientemente no balcão para ser atendida, começo a observar cada uma das pessoas daquele local (já que eu me deparava com uma situação que parecia que duraria séculos). Uma moça, muito bonita me chamou a atenção... conversava com uma outra sobre assuntos de escola, dos filhos, enfim, assuntos em que sou pós-graduada.

De repente, como uma nuvem cor-de-rosa, me aparece a mocinha, de óculos, cabelos negros e sua blusinha cor-de-rosa, uniforme do local: - Pois não? - Poxa! - Quis gritar! Queria continuar observando aquelas duas... o papo parecia interessante...: - Gostaria de encapar estes livros - a mocinha era nova no local, o que me deixou mais entusiasmada ainda, porque sabia que o atendimento demoraria e eu queria observar as duas moças que conversavam, sem parar, sobre algum assunto extremamente divertido.

Uma delas, mais simples, vestida quase que imperceptivelmente, se é assim que pode-se chamar... ou talvez, como estão usando atualmente na linguagem da moda "minimalista"... aliás, não usamos minimalista para decoração?? Aff...

A segunda, era mais charmosa... bronzeada do sol, um macacão laranja salmão, unhas de um azul clarinho maravilhoso... (que nesta quinta, provavelmente, a Cléo fará o favor de encontrar um igualzinho em sua estante repleta de cores da moda 2011...) e falava risonha, esbanjando sensualidade...

- O que mais você precisa? - Surtindo como um raio de sol quando acabamos de sair de um quartinho escuro, sem luz alguma, aquela mocinha "ofuscava" meus ouvidos!!! Coloquei meus pés de volta ao chão e partimos para a máquina de xerox. Pisava duro... queria continuar ali, ouvindo as moças... para meu agrado, elas aproximaram-se e continuaram a conversa.

A sensualíssima bronzeada dizia algo com separação:
- Você não sabia? Não te contei??? Eu me separei! Faz 47 dias!

Fiquei observando o que aquilo queria dizer... Quando você não liga muito pra coisa e alguém te pergunta há quanto tempo, você simplesmente diz: sei lá, acho que um  mês e meio. Mas quando diz: 47 dias, 5 horas, 2 minutos e 27 segundos... aquilo realmente é algo importante.

- E como você está? Poxa, eu não sabia! - pergunta a amiga, eufórica, parecendo desejar aquela separação há anos...
- Estou super bem! Muito feliz!

Bom, talvez quando ela disse que fazia 47 dias de separação, realmente aquilo era importante para ela porque era o que ela precisava para ser feliz. Por isso dizia: 47 dias, 3 horas, 1 minutos e 10 segundos... aquilo realmente era tão importante que ela precisava contar precisamente!

As duas riam, alto, a segunda continuava a esbanjar-se, sorrindo a toa. Porém, soltou: - Mas eu adoro quando ele me liga todos os dias... o término foi amigável, devido às crianças.

Fiquei ali, imóvel, apreciando tal declaração, tão convincente como o azul de seu esmalte. Poderia ela suportar o dia-a-dia de sua separação, 47 infindáveis dias, longe do seu amor?

Por um instante, passou minha vida como um filme. Suportaria eu ficar sem meu amor, 47 dias, 5 horas, 23 minutos e 1 segundo e mesmo assim usar um macacão cor de salmão? Poderia eu continuar a mesma?

Não... em perdas assim tudo muda, talvez ela nunca houvesse contado os dias tão fielmente antes, nunca houvesse usado macacão cor de salmão e nunca houvesse usado outro esmalte que não fosse o renda.

Ou talvez ela continuaria a mesma, sem seu amor há 47 dias, porém, a mesma.

Pessoas são diferentes. Não compare você com a sensualíssima da papelaria, nem comigo, nem com qualquer outra pessoa deste planeta. Não compare.
Apenas observe, tire uma lição qualquer e pare. Porque se você continuar, ficará louco.

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